Friday, December 31, 2010

E ainda Joaquim Pessoa...


Respiro até doer o teu suor

no ar condicionado do meu quarto

e faço amor contigo por amor

que de yves saint laurent já eu estou farto.


E desperto depois. E depois parto

sem lágrimas nos olhos. Sem calor.

O amor não saberei se soube dar-to

ou se ao menos o fiz, o que é pior.


Ponho à saída o cachecol de lã

e vou ao monte carlo quase cheio

pedir italiana e croissant.


E esqueço-me de ti enquanto leio

as primeiras notícias da manhã

deste dia escuro baço e feio.


Joaquim Pessoa

(in Português Suave)

Tuesday, December 28, 2010

Tinha de ser...


Atchins, arrepios, febre, frio.... alguém quer?
Eu dou!
Vou avinhar-me, abifar-me e abafar-me nos próximos dias :(

Sunday, December 26, 2010

Para pensarmos, a sério, no país que queremos!


Maria – Um (outro) conto de Natal


(Gustav Klimt - "Mother and child")

O seu nome é Maria. É mãe de cinco crianças. Trabalhava na cantina de uma escola... foi despedida!

Na cantina escolar onde trabalhava a Maria, o destino dos restos de comida é o lixo... e a Maria pensou que poderia levar alguns desses restos para casa, para dar aos filhos, numa tentativa de remediar, mesmo que só um pouco, o ordenado miserável. Enganou-se! Para a “Eurest”, a empresa privada que, com o dinheiro dos nossos impostos, lucra com o negócio de muitas cantinas escolares, para além desta de Vila Nova de Gaia, isso é intolerável e motivo para despedimento.

Se os meus amigos e amigas se derem ao trabalho de ler a notícia do CM, verão que este nem é sequer um caso isolado; a empresa tem por norma ser implacável com as funcionárias, mesmo que estas se limitem a ter a “ousadia” de guardar umas sobras do seu próprio almoço, no cacifo... para quando chegarem a casa, já tarde.

Lembra, e bem, o presidente do Sindicato da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restauração e Similares, que a “Eurest” faz parte da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), associação que promove a campanha “Direito à Alimentação”, campanha em que aparece, alegre e mediaticamente, ao lado do Presidente e candidato a “Represidente”, Cavaco Silva, nas suas ações de campanha eleitoral à custa dos pobres… dos quais descobriu, subitamente e por estes dias, ser extensamente amigo.

É natal! Tempo em que alguns sentimentos nobres são vergonhosamente obrigados a conviver com a mais abjecta hipocrisia.

«Glória a Deus nas Alturas, paz na Terra, aos homens de boa vontade».
(Evangelho Segundo S. Lucas, capítulo dois, versículo catorze)


post totalmente retirado daqui


Saturday, December 25, 2010

Memória de Charles Chaplin


Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
quando nunca pensei me decepcionar,

mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
“quebrei a cara muitas vezes”!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial
(e acabei perdendo).


Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!
Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é “muito” pra ser insignificante.

Charles Chaplin
(16 de Abril de 1889 — 25 de Dezembro de 1977)

Natal divino


Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.

O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…

Miguel Torga

Friday, December 24, 2010

Litania para este Natal (1967)

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos vir pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira

Silent night

Wednesday, December 22, 2010

Natal à Beira-rio


É o braço do abeto a bater na vidraça!

É o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado...
.
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.
.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia!
.
David Mourão-Ferreira
Cancioneiro de Natal (1971)

Monday, December 20, 2010

Outono


Sempre esperei por ti. Pelos sonhos que queríamos sonhar.
No meu leito o silêncio e o frio.
Sempre esperei por ti. Pela vida que queríamos viver.
Nos meus braços a ausência e a saudade.
Sempre esperei por ti. Pelos beijos e pelo amor, que era nosso.
Em mim a dor do impossível.
Sempre esperei por ti. Tenho o teu nome em cada flor e em cada janela.
Mas não te tenho a ti.
No entanto, sempre esperei por ti...

Sunday, December 19, 2010

Memória de José Dias Coelho



A Morte Saiu À Rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação

José Afonso

(a José Dias Coelho, pintor e escultor, militante comunista,
assassinado pela PIDE faz hoje 49 anos!)
(tinha 38 anos...)



Friday, December 17, 2010

Música para o fim-de-semana


Padre Pueblo

Padre Pueblo que estás en la Tierra,
elevados sean tus hombres.
Traigamos tu reino,
y se haga tu voluntad
así en la tierra como en la mar.

El pan de todos de cada día
ganémosle hoy,
y perdónanos el haber nacido.

No permitas que perdonemos nunca a nuestros deudores,
y haznos caer en la tentación de la libertad.
Y líbranos del mal de la soledad.
Amén.

Patxi Andion - 1978 - El Cancionero Prohibido

Wednesday, December 15, 2010

Memórias


As memórias. Sirvo-me das memórias que me parecem tão antigas para matar a saudade e depois morrer. Para parar os dias e assim reviver. Para respirar em ti e então renascer.
As memórias. Sirvo-me das memórias que me parecem tão recentes para reter as lágrimas e parar de chorar. Para te dar as mãos e poder amar. Para te abrir o meu peito e poder-te abraçar.

Saudades de todas as memórias quando olho o mar. E nele reconheço o teu olhar.

Monday, December 13, 2010

Ainda Joaquim Pessoa

Dobrar na boca o frio da espora
Calcar o passo sobre lume
Abrir o pão a golpes de machado
Soltar pelo flanco os cavalos do espanto
Fazer do corpo um barco e navegar a pedra
Regressar devagar ao corpo morno
Beber um outro vinho pisado por um astro
Possuir o fogo ruivo sob a própria casa
numa chama de flechas ao redor.

Joaquim Pessoa

Saturday, December 11, 2010

Música para o fim-de-semana



Sou barco

Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos são
Meninos a brincar.

Ei-lo que salta bravo
E a onda verde-escura
Desfaz-se em trigo
De raiva e amargura.

Ouço o fragor da vaga
Sempre a bater no fundo,
Escrevo, leio, penso,
Passeio neste mundo
De seis passos
E o mar a bater ao fundo.

Agora é todo azul,
Com barras de cinzento,
E logo é verde, verde,
Seu brando chamamento.

Ó mar, venha a onde forte
Por cima do areal
E os barcos abandonados
Voltarão a Portugal.

Friday, December 10, 2010

Madrugada


Nesse dia em que a madrugada voltar a cantar chama-me. Eu vou. Só para voltar a ver o teu sorriso e nos mergulharmos no teu olhar...

Wednesday, December 08, 2010

Porque me apetece Ary dos Santos


Minha mãe que não tenho meu lençol
de linho de carinho de distância
água memória viva do retrato
que às vezes mata a sede da infância.

Ai água que não bebo em vez do fel
qua a pouco e pouco me atormenta a língua.
Ai fonte que não oiço ai mãe ai mel
da flor do corpo que me traz à míngua.

De que Egipto vieste? De qual Ganges?
De qual pai tão dostante me pariste
minha mão minha dívida de sangue
minha razão de ser violento e triste.

Minha mãe que não tenho minha força
sumo da fúria que fechei por dentro
serás sibila virgem buda corça
ou apenas um mundo em que não entro?

Minha mãe que não tenho inventa-me primeiro:
constrói a casa a lenha e o jardim
e deixa que o teu fumo que o teu cheiro
te façam conceber dentro de mim.

Ary dos Santos

Monday, December 06, 2010

Encontra-me


Encontra-me na volta do tempo
enroscada pelo frio e pelo vento
a chuva a bater-me por dentro
e eu à tua espera, para o momento

Encontra-me uma vez que seja
na espuma da onda que se beija
na boca ardente que se deseja
e na memória, para que se veja

Encontra-me só mais uma vez
na volta do tempo que se desfez
no abraço que se deu mais uma vez
e na despedida, que em nós se fez

Encontra-me por fim em cada dia
na noite no vento que assobia
na rocha
no mar em que perdia
toda a saudade que em nós cabia.

Encontra-me...

Saturday, December 04, 2010

Friday, December 03, 2010

Lentamente


Lentamente me ponho ao caminho, deixando para trás alguns amores. Vejo o tempo correr à velocidade do relógio ou da lua. Sabes que nunca te deixarei sozinho, e que farei minhas as tuas dores. Respiro fundo, os cheiros entranham-me e sou tua. Quem sabe de nós senão o tempo do verbo amar... por isso te quero assim, talvez para me aconchegar...


Wednesday, December 01, 2010

Novamente Joaquim Pessoa


Dizer catorze versos ao acaso,

falar de ti, de mim, falar de nós.

De nós, que nos cantamos num abraço

e que nos abraçamos com a voz.


Que vou dizer de ti, eu, que te amo

e isso é ter-te em mim, como se eu fosse

cada um dos momentos em que chamo

por Deus que me criou quando te trouxe.


Ó meu amor, que vou dizer-te agora

quando nada me chega para o canto

que de ti se alimenta e me devora?


Cantar-te, estando lúcido, é estar louco.

Não sei que mais dizer-te nesta hora,

pois dizer que te amo é muito pouco.


Joaquim Pessoa

(in O Pouco é para ontem)

(para ti, e para ti, com um abraço. duplo.)

Tuesday, November 30, 2010

Frio

São quatro. Dois adultos e duas crianças. A casa é fria. De noite dormem todos abraçados uns nos outros para que os corpos se aqueçam. Tapam-se apenas com o único cobertor que têm. Mas a força que os move é tanta e o amor que os une é tão grande que um cobertor chega. E de manhã acordam sempre com um sorriso no rosto.
Amanhã de manhã faço-lhes um chocolate quente...

Monday, November 29, 2010

Recado

Não vale a pena insistires. Já te disse que não é por aí que vou. O meu caminho é outro. As vidas tomam rumos diferentes às vezes sem darmos por isso, outras por opção. No entanto a nossa vida somos nós que a escolhemos. O que queremos, ou não, fazer, é e será sempre de nossa opção. E a minha opção está feita, faz tempo!
Nem lamento que haja vidas embrulhadas por quem as quis embrulhar, mas recuso-me a aceitar que embrulhem a vida dos que amo. Porque isso, sim, é um acto de puro egoísmo. Para não falar das razões que te levaram a embrulhar tudo... Não continues nem arrastes mais ninguém, não valerá a pena. Um dia a verdade vem ao de cima, por isso não vale a pena insistires.
Já te disse que o meu caminho é outro. Vou deixar o tempo correr. Vou continuar o meu caminho, que é o de tantos que comigo e ao meu lado caminham.
Pára, não vale a pena insistires. Acabou, entendeste?

Saturday, November 27, 2010

Música para o fim-de-semana



Carta Marcada

Simone

Tudo o que o amor me deu
Aconteceu sem querer
Mas dessa vez fui eu quem fez acontecer
Se me ensinou viver
Quase matou de amor
Por ti querer demais vivido que ensinou
Eu não mandei você chamar minha atenção
Eu me prendi e se soltou a minha inspiração
Meu amor...
Ao me dizer que sim
Você me fez quem eu sou
A liberdade de te amar me libertou
Eu aprendi que no amor não é preciso se jogar
Mas quando a gente joga não quer perder
E quem diz que o amor é carta marcada acertou
Ninguém vai separar as vidas que a vida embaralhou
Sou feliz porque só quis apostar em nós dois
A sorte me sorriu
já temos um passado pra lembrar depois...
lembrar depois
Eu não mandei você chamar minha atenção
A liberdade de te amar me libertou da solidão
Sou como a minha inspiração
Meu amor... meu grande amor.

Thursday, November 25, 2010

Porque me apetece Joaquim Pessoa


UM DIA DIFERENTE

Amanhã
quando nascer um hino de alegria
em todos os olhares
de todas as crianças

quando o meu sangue vermelho
e a minha boca vermelha
se transformarem

e quando amadurecerem nos meus braços
as espigas dos meus dedos
e os homens finalmente se encontrarem
e se chamarem de novo irmãos

e quando houver em cada pensamento
a raiz futura de um poema
e uma verdade pura em cada beijo
e em cada beijo uma canção de paz

amanhã
meu amor minha pátria meu poema
cantaremos a cada aurora
um dia diferente.


(Joaquim Pessoa)

Tuesday, November 23, 2010

AMANHÃ ESTAREI EM GREVE!



E não vou tomar café fora de casa, nem almoçar ou jantar ao restaurante, nem meter gasolina, muito menos irei às compras!
É dia de greve geral e, tal como o trabalho, é sagrado!
Amanhã estarei também ausente da net...
Bom dia de GREVE a todos!

Monday, November 22, 2010

Às vezes



Falas-me
olhas-me
tocas-me
beijas-me
agitas-me
E eu fico tão
dormente e
tão desperta
ao mesmo tempo que
te olho, despido
esperando por
mim, pelo
amor que
te arde
É então que
eu te visto
de beijos molhados
e te bebo
todo inteiro.
Às vezes
o amor é assim...

Sunday, November 21, 2010

Memória


Honrando a tua memória continuaremos a tua e nossa luta!
Até amanhã, Camarada!


Joaquim Gomes
(1917-2010)

Música para um domingo



Já passou por aqui. Não faz mal.
É tão bonita que passa outra vez.
E as vezes que me apetecerem...

Saturday, November 20, 2010

É HOJE!


QUEM É CONTRA A GUERRA É PELA PAZ!

QUEM É PELA PAZ É CONTRA A NATO!


Desfilemos até aos Restauradores. Em Luta, calma e tranquilamente!

Thursday, November 18, 2010

Nos 30 anos de carreira de Rui Veloso



Primeiro Beijo


Recebi o teu bilhete
para ir ter ao jardim
a tua caixa de segredos
queres abri-la para mim
e tu não vais fraquejar
ninguém vai saber de nada
juro não me vou gabar
a minha boca é sagrada

Estar mesmo atrás de ti
ver-te da minha carteira
sei de cor o teu cabelo
sei o shampoo a que cheira
já não como, já não durmo
e eu caia se te minto
haverá gente informada
se é amor isto que sinto

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa

Promete lá outro encontro
foi tão fugaz que nem deu
para ver como era o fogo
que a tua boca prometeu
pensava que a tua língua
sabia a flôr do jasmim
sabe a chicla de mentol
e eu gosto dela assim

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa

Wednesday, November 17, 2010

NATO em Lisboa

Encerramento da função pública em Lisboa, 200 julgamentos adiados, jogo de futebol Benfica-Braga protelado, encomendadas quatro viaturas daquelas contra manifestações (e que não deviam ter sido a preço de saldo… e prazo de entrega falhado), simulacros de acções de segurança e repressão, suspensão dos acordos Schengen, uma campanha intimidatória com uso de todas as vias de comunicação (anti-)social: eis a cimeira da NATO em Lisboa (e claro que não é tudo).
Uma mescla de provincianismo com prepotência e incompetência.
.

E uma manifestação pela Paz e contra a NATO, no dia 20, do Marquês de Pombal aos Restauradores.
A que não se pode faltar!












Totalmente retirado daqui

Monday, November 15, 2010

Vieste




Esperava que voltasses. O teu rugido era tremendo mas dentro de mim o silêncio. Lambias as rochas mais pequenas e eu ali de desejo fervente. Vieste em onda larga e derramaste-te por inteiro sobre o meu corpo inerte. Na maré de vir. Ainda hoje guardo a espuma daquele fim de tarde. Sangue meu...

Friday, November 12, 2010

Música para o fim-de-semana



O CIO DA TERRA

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão

Milton Nascimento / Chico Buarque

Wednesday, November 10, 2010

Porque me apetece Joaquim Pessoa



As mãos fechadas no teu peito e o
vestido azul caído aos pés da cama.
(Teu corpo de mulher é belo nu
e ainda mais belo quando ama).

Os meus beijos são potros que te mordem
os seios e as coxas e os cabelos
para que os minutos todos nos acordem
e nunca mais possamos esquecê-los.

E penetrando em ti perdidamente
atravesso mil bosques pela estrada
que há dentro do teu sexo e lentamente

tu ficas nos meus braços espantada
como se o mundo fosse de repente
acabar em plena madrugada.


Joaquim Pessoa
(in OS OLHOS DE ISA)

Monday, November 08, 2010

Devolvo-te o coração


Venho devolver-te o coração que te tiraram. Encontrei-o num caminho agreste, ao vento e ao frio, e sangrava. Aconcheguei-o nas minhas mãos e dei-lhe um beijo. Estremeceu. Vi que ainda batia. Por isso to devolvo.
Renasce para a vida. Aproveita cada momento. Não adies o tempo que é teu, que é vosso. Vive o que tem de ser vivido. Não adies mais, o tempo pode esgotar. Ou cansar-se, porque o tempo também se cansa. Vive o que tem de ser vivido!
Para isso te devolvo o coração que te tiraram, mas que ainda pulsa, cheio de vida!

Saturday, November 06, 2010

Música para o fim-de-semana



Tão novinhos que éramos...
Bom fim-de-semana!

Thursday, October 28, 2010

Porque me apetece Ary dos Santos

Soneto presente

Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui.

Não me digam mais nada senão falo
e eu não posso dizer eu estou de pé.
De pé como um poeta ou um cavalo
de pé como quem deve estar quem é.

Aqui ninguém me diz quando me vendo
a não ser os que eu amo os que eu entendo
os que podem ser tanto como eu.

Aqui ninguém me põe a pata em cima
porque é de baixo que me vem acima
a força do lugar que for o meu.

José Carlos Ary dos Santos
(vou ali e depois volto. logo.)

Wednesday, October 27, 2010

Não sou mar


Se eu fosse mar deixaria que desaguasses em mim o rio que és.
Poderias então descansar de todas as cores no meu azul profundo.
Não sou mar.
Mas podes sempre descansar no meu regaço todos os cansaços da vida.
As tuas lágrimas. As chegadas e as partidas. A tua inquietação.
E repousar o corpo...

Monday, October 25, 2010

Ainda o tempo...


Quando o amor, a ternura, a solidariedade, a amizade, e tudo o resto que sentimos caminham assim, de mãos dadas, o tempo não tem fim!
Quando secamos as lágrimas, o sangue nos corre nas veias a arder, e todo o nosso eu é capaz de sentir assim, como um abraço, o tempo não tem fim!
Quando os sorrisos nos enchem a alma e o pulsar dos corações é feito a um tempo único, podemos inventar tudo, até um tempo sem fim!
Quando no meio da solidão a vida continua a fazer todo o sentido só porque te sinto meu irmão, o tempo nunca terá fim!

Saturday, October 23, 2010

Música para o fim-de-semana



Amor primero

Se me ha dormido un sueño en el café
Perdido por el tiempo de nunca volver
La tarde en el colegio y un corazón
Clavado en el pupitre entre los dos.
Estas algo más rubia y así de pie
Pareces aún más alta de lo que pensé
Cuando tú eras la envidia y yo el por qué
Que tu padre decía me iba a perder
Quiero echar la vista atrás
Donde se encuentran
Mi plumiere y mi compás
Y tus trenzas
Y volver a rebuscar por un solar
Yo mis ganas de pelear y tú el susto
Que te daba no verme más
A fin de curso.
Ay amor, amor primero
Y de segundo, tercero y cuarto
Ay amor, te quise tanto
Cuando el beso era amor
Y el amor canto.
Amor desde el gimnasio a la excursión
Desde la geografía, amor sin razón
Amor de tinta y tiza amor de portal
Amor de cada día y en cada lugar.
Amor que aun ahora guardo en la piel
El beso, la caricia, el toque, temblor
Amor perdido, amor de nunca volver.. .
Camarero, por favor, otro café.
Dónde están, donde se encuentran
Mi plumiere y mi compás
Y tus trenzas
Y volver a rebuscar por un solar
Yo mis ganas de pelear y tú el susto
Que te daba no verme más
A fin de curso.

Friday, October 22, 2010

Tempo


É de noite que entras em mim, devagarinho, num sonho que deveria ser apenas meu. É de noite que o teu silêncio me grita com mais força, num tempo que é só nosso. É pela madrugada que sais de mim, feito abraço, e o teu sorriso se escapa até voltares, no tempo que é teu.

Sunday, October 17, 2010

Música para um domingo



Deixo-vos com o Adriano.
(Vou ali e depois volto. logo)

Saturday, October 16, 2010

Saudade de Adriano



Nas tuas mãos tomaste uma guitarra.
Copo de vinho de alegria sã
Sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.

Foste sempre o cantor que não se agarra

O que à Terra chamou amante e irmã
Mas também português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã.

O teu coração de oiro veio do Douro

num barco de vindimas de cantigas
tão generoso como a liberdade.

Resta de ti a ilha de um Tesouro

A jóia com as pedras mais antigas.
Não é saudade, não! É amizade.


(Ary dos Santos)

Thursday, October 14, 2010

Porque me apetece Joaquim Pessoa



És tu. Mulher normal. Mulher inteira.

Olhos de amêndoa amarga. E peito doce.

Cisterna de água pura. Amendoeira.

Mulher de quem não sou. Mas antes fosse.


Tu és a flor do meu cantar de amigo.

Papoila no meu sangue amachucada.

De bruços a fazer amor comigo

na cama onde se deita a madrugada.


Mulher. Corça da noite. Erva do dia.

No peito duas rosas de alegria!

No ventre a rosa negra de cantar-te!


Mulher a quem desejo em plena rua.

A quem dispo. E ficas toda nua.

Que ali mesmo mulher eu quero amar-te.


Joaquim Pessoa

(in Amor Combate)

Wednesday, October 13, 2010

Sobre o Orçamento de Estado

"..........

Do que precisamos no próximo Orçamento do Estado é de um aumento real dos salários, das reformas e pensões, que reponha uma parte da perda de rendimento dos últimos anos e que seja também um instrumento de combate à pobreza e de dinamização do crescimento económico. Precisamos de um orçamento que aumente o investimento público com vista ao crescimento económico.
Precisamos de um Orçamento que aumente os impostos onde isso é justo e indispensável e que corte na despesa onde isso é útil e justificável.

Relativamente à receita fiscal, o PCP insiste que é possível, (sem aumentar a carga fiscal já muito pesada sobre os trabalhadores ou os reformados, e sobre as micro e pequenas empresas), obter níveis de receita fiscal significativamente superiores, seja através do alargamento da base de incidência – começando finalmente a tributar rendimentos e lucros que hoje nada pagam -, seja através da aplicação de taxas mais justas e equitativas a rendimentos cujo nível de tributação é inaceitavelmente pequena, seja através da eliminação de benefícios fiscais injustos e injustificados.

Assim, no que respeita ao aumento da receita fiscal, o PCP propõe 5 medidas:

1. A criação de um novo imposto, (o Imposto sobre as Transacções e Transferências Financeiras, ITTB), que taxa em 0,2% todas as transacções bolsistas realizadas no mercado regulamentado e não regulamentado e que taxa em 20% as transferências financeiras para os paraísos fiscais. (receita adicional mínima de, respectivamente 260 milhões de euros e 1500 milhões de euros;

2. A tributação extraordinária do património imobiliário de luxo, através da introdução temporária de uma taxa de 10% de IMT (Imposto Municipal sobre Transacções Onerosas), e de uma taxa de 1% de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), onerando a aquisição e a detenção de imóveis e propriedades de valor superior a um milhão de euros (receita não definida);

3. A tributação agravada sobre a aquisição ou posse de bens de luxo, (em sede de ISV, Imposto sobre Veículos, e de IUC, Imposto Único de Circulação), incidindo sobre aviões particulares, iates de recreio e veículos de custo superior a 100 000 euros (receita não definida);

4. A tributação das mais-valias bolsistas, alargando a sua incidência a rendimentos do património mobiliário obtidos por Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS), entidades residentes no estrangeiro e fundos de investimentos. (receita adicional mínima de 250 milhões, equivalente à que o Governo estima obter com a tributação em IRS de rendimentos individuais de mais-valias mobiliárias, não entrando naturalmente em linha de conta com a receita da tributação das mais-valias obtidas pela PT pela venda da VIVO);

5. A aplicação de uma taxa efectiva de IRC de 25% ao sector bancário e grandes grupos económicos com lucros superiores a 50 milhões de euros, eliminando os benefícios fiscais que actualmente usufruem, e alargando este regime ao sector financeiro que opera na Zona Franca da Madeira. (receita estimada 700 milhões de euros, cerca de 350 para a banca, o restante para os grupos económicos).

O PCP propõe igualmente 5 medidas de redução da despesa fiscal:

1. Suspensão temporária do regime fiscal de isenção plena de IRS e IRC, ou de quase isenção em sede de IRC (taxa máxima de 5%), aplicável na Zona Franca da Madeira a empresas não financeiras, passando a ser aí aplicável pelo menos a taxa de IRC de 12,5% que incide sobre empresas localizadas no interior do País; (diminuição de despesa fiscal não inferior a 400 milhões de euros, face ao total de 1090 milhões de euros estimado no Relatório do OE de 2010);

2. Redução, de quatro para três anos, do período máximo durante o qual são permitidas deduções de prejuízos fiscais aos lucros tributáveis (diminuição de despesa não definida);

3. Eliminação dos benefícios fiscais, (por exemplo, de IMT e de imposto de selo), aplicáveis a operações de reestruturação empresarial (fusões e cisões empresariais); (diminuição de despesa não definida);

4. Revogação dos benefícios fiscais concedidos a PPR (corte na despesa fiscal de 100 milhões de euros);

5. O fim dos benefícios fiscais para os seguros de saúde – 100 milhões de euros.

No que respeita à despesa, o PCP propõe 5 medidas de corte na despesa:

1. A participação das Forças Armadas em todas as operações no estrangeiro - 75 milhões de euros;
2. Abonos variáveis /indemnizações por cessão de funções - cortar 20% – 16 m€;

3. Aquisição de bens e serviços correntes – 1515 m€ , dos quais 396 em estudos, pareceres e outros trabalhos especializados e outros serviços dos quais propomos cortar 50% - cerca de 200 milhões de euros;

4. O fim da transferência de verbas da ADSE para os hospitais privados, cujo montante, certamente de dezenas de milhões de euros, continua a não ser divulgado pelo Ministério das Finanças;

5. O fim definitivo do escandaloso negócio do terminal de Alcântara com a Liscont, que agora avança para um Tribunal Arbitral por proposta da APL, figurino altamente favorável aos grupos privados, como o exemplo do hospital Amadora – Sintra demonstrou.

Para além destas propostas imediatas e concretas, o PCP apresenta ainda 5 medidas contra o desperdício de dinheiros públicos no futuro:

1. A redução para um máximo até cinco membros, de todos os Conselhos de Administração de Empresas Públicas e Entidades Públicas Empresariais, e para um número máximo até três membros dos Conselhos Directivos de Institutos Públicos, não podendo as suas remunerações serem superiores à do Presidente da República;

2. A redução para metade do número do pessoal dos gabinetes dos membros do Governo e de todos os altos cargos do Estado cujos titulares tenham direito a gabinetes idênticos aos de ministros e idêntica redução, para metade, do número do pessoal dos gabinetes dos Conselhos de Administração das empresas públicas;

3. O não estabelecimento de qualquer nova Parceria Público Privada, como forma de concretizar infra-estruturas ou realizar investimentos, a extinção das entidades reguladoras e a reintegração das suas funções na Administração Central, de onde foram retiradas; A não transferência de funções do Estado para empresas públicas em substituição de serviços da administração pública, como acontece com a transferência para uma empresa pública (GERAP) das contratações para o Estado assumindo que é para contratar privados para o desenvolvimento dessas funções;

4. Elaboração urgente, pelo Tribunal de Contas, de uma auditoria completa a todos os fenómenos de desorçamentação no Estado, incluindo as situações de migração para o direito privado e, ainda, para a determinação completa do nível de endividamento do Estado, incluindo o (designado) endividamento oculto;

5. O fim das injustificadas e milionárias contratações de software proprietário na Informática do Estando, cujos custos totais o próprio Governo afirma desconhecer e a efectiva opção pelo software livre.

O PCP vai ainda propor, como forma de melhorar os instrumentos para o combate ao crime fiscal, e na sequência de anteriores iniciativas sobre a eliminação do sigilo bancário que vieram a ter a aceitação parcial na Lei 37/2020, de 2 de Setembro, a eliminação do efeito suspensivo de qualquer recurso judicial sobre decisões tributárias para aceder a informação bancária.

........."

Jornadas Parlamentares do PCP
Propostas para responder aos problemas do país
(excerto, daqui)

Monday, October 11, 2010

Arco íris


Gostava de andar descalça. De sentir o fresco do chão e a humidade da terra. Por isso enterrava os pés quando passeava pela praia ou quando plantava flores. E gostava de andar à chuva, deixando que esta escorresse cara abaixo até os pingos entrarem na roupa e lhe molharem o corpo. Sentia-se assim parte integrante da Natureza.
No dia aprazado foi ao encontro que tinha marcado com o amado. Na ponte que atravessa o rio. Nessa ponte que os separa mas que também os une. Estiveram juntos todo o dia, fizeram o que ainda estava por fazer. Marcaram novo encontro para daqui a três meses, na mudança de estação. Voltou para casa. Começara a chuviscar e ainda teve tempo de ver o arco íris. Depois adormeceu. Em paz.

Saturday, October 09, 2010

Música para o fim-de-semana



Samaritana

En Madrid ya agonizando el presente mes

me siento al fin enfrente de un papel

para escribirte justo hasta la piel

aunque no entiendas lo que te diré
Probablemente no te acordarás

ni de mi nombre ni el de aquel café

donde borracho con mi soledad
casi en la puerta te paré y te hablé

tú me miraste y me dejaste hablar

no preguntaste, yo no pregunté

después salimos juntos desde el bar
para andar toda la noche al revés

Probablemente no sabrás jamás

que nunca fuiste foto de carnet
que tu mayor palabra fue callar

y fue la mía amarte, mujer.

Porque yo te amé aquel anochecer
que fuiste el cuenco donde yo dejé

mi soledad de atrás de antesdeayer,

mis viejas penas y el primer deber.

Tuvo tu casa vocación de hogar

y tu mayor victoria fue saber

que siempre fuistes algo que olvidar

de cualquier hombre y en cada café.

Y fuiste el puerto del que yo partí

y fuiste el muelle donde decanté

todos los besos que pude fingir

todos los sueños que nunca encontré

No fuiste una, fuiste LA MUJER,

que bautizó mi nuevo amanecer

me diste agua, me hiciste café...

yo no acuerdo ya ni si te pagué.

Eres la caja fuerte del dolor

naciste por, desde, y para el amor,

eres la amante fiel, la más verdad,

samaritana de la libertad.

Perdóname la versificación,

de tu recuerdo he hecho una canción,

mi mala letra y hasta ese borrón,

perdona el tono y el vocablo "amor".

Probablemente no supe explicar

lo que he guardado bien, bien, bien, bien a tu pesar

y que intenté, intenté poner en un papel

en Madrid y agonizando el presente mes.


Monday, October 04, 2010

Perguntas

Onde estavas tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teenagers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
Ou Allende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.


Joaquim Pessoa

(vou ali. depois volto. logo)

Saturday, October 02, 2010

Música para o fim-de-semana



Já passou por aqui. Mas é tão lindo...

Thursday, September 30, 2010

Wednesday, September 29, 2010

Na Rua, em Luta! Mais uma vez!


Hoje é aqui. E no Porto.
Porque não baixamos os braços!
Porque a LUTA, que é contínua, continua!

Monday, September 27, 2010

Não me chames, eu vou já...


Queria ter palavras para ti, mas não tenho. Não hoje.
Sentes o meu cheiro? Respiro-te por cada poro da minha pele, que tu vestiste. Eu sou duas peles, a minha e a tua. E o tempo corre e a tua pele ainda está em mim. Fica. És só meu porque te engoli, e agora dormes em mim e canto-te todas as noites canções de ninar. Até que adormeces abraçado a mim. Cá dentro.
Às vezes passeamos à beira mar e ris com as ondas que te refrescam os pés que só eu vejo. Apanhas conchas e fazes-me um colar de amor que nos une ainda mais. Como se este mais fosse possível, porque já é tudo. Viverás enquanto eu viver, porque o amor só acaba quando eu deixar de existir... e da saudade que te tenho não sei a medida...
Não me chames, eu vou já...

(eu vou ali. depois volto, logo logo)

Saturday, September 25, 2010

Música para o fim-de-semana


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...

No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

(pedindo desculpa pela qualidade do video...)

Thursday, September 23, 2010

A Noite na Ilha


Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

(Pablo Neruda)
(12 de Julho de 1904 - 23 de Setembro de 1973)

Wednesday, September 22, 2010

Vento e poesia



Quando eu souber da cor do vento
e o vir passar na minha rua
pedir-lhe-ei que entre, com tempo
e cubro-o com a manta que é tua
Quando eu souber do sabor do vento
guardá-lo-ei fechado no coração
para que possas saborear, com tempo
e fazer-lhe um poema, talvez uma canção
Quando eu souber do canto do vento
seja na montanha, no campo ou no mar
escrevê-lo-ei na areia, a tempo
de vir uma onda rebelde e o apagar.
Para que tu possas descobrir, um dia,
que o vento, se quiser, também é poesia.

Monday, September 20, 2010

O teu sorriso

Não me apetece escrever. Atei os dedos uns aos outros e assim não consigo tocar as teclas. Porque não me apetece escrever. Tenho todas as palavras a saltarem-me do peito, mas não tenho o teu sorriso. E sem o teu sorriso não me apetece escrever. Se tu me desses hoje o teu sorriso como o deste ontem e todos os outros dias talvez eu escrevesse. Mesmo que não me lesses, eu escreveria o teu nome e a saudade e o abraço. Assim não me apetece escrever. Hoje não.
Porque não me dás o teu sorriso?

Sunday, September 19, 2010

Música para um domingo



Tão actual!!!
Bom domingo.

Saturday, September 18, 2010

Encontro no Porto


O Poeta e o Músico encontram-se. No corpo. No olhar. Na voz. No silêncio. Nas palavras que de dentro vão desaguar nos corações. Um rio em leito de sonhar e em leito de correr. Até ao mar. Nas mãos que procuram o abraço. No Pedro e no Zé Manel…
Dia 18 de Setembro, 23.00 horas.

Se estiver no Porto, ou perto do Porto, não perca...

Monday, September 13, 2010

ILHA



Deitada és uma ilha E raramente
surgem ilhas no mar tão alongadas
com tão prometedoras enseadas
um só bosque no meio florescente
promontórios a pique e de repente
na luz de duas gémeas madrugadas
o fulgor das colinas acordadas
o pasmo da planície adolescente
Deitada és uma ilha Que percorro
descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro
ou se te mostro só que me inebrias
Amiga amor amante amada eu morro
da vida que me dás todos os dias


David Mourão-Ferreira

(vou ali e depois volto. logo)

Saturday, September 11, 2010

Memória do 11 de Setembro, há 37 anos



HOMENAGEM AO POVO DO CHILE

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro

Nas suas almas abertas
traziam o sol da esperança
e nas duas mãos desertas
uma pátria ainda criança

Gritavam Neruda Allende
davam vivas ao Partido
que é a chama que se acende
no Povo jamais vencido
– o Povo nunca se rende
mesmo quando morre unido

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Alguns traziam no rosto
um ricto de fogo e dor
fogo vivo fogo posto
pelas mãos do opressor.
Outros traziam os olhos
rasos de silêncio e água
maré-viva de quem passa
Uma vida à beira-mágoa.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Mas não termina em si próprio
quem morre de pé. Vencido
é aquele que tentar
separar o povo unido.
Por isso os que ontem caíram
levantam de novo a voz.
Mortos são os que traíram
e vivos ficamos nós.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que nasceram para o Chile
morrendo de corpo inteiro.

José Carlos Ary dos Santos