Tuesday, February 02, 2016

Vidas



Gostavam de se passear à beira da Lagoa, pés dentro da água, estivesse frio ou calor.
Era aquela a areia que ambos conheciam, pois desde crianças que aí brincavam. E sonhavam com o dia em que os seus filhos e netos fizessem o mesmo. Muitas vezes nadavam até ao outro lado para rolarem nas dunas. Era assim e foi assim durante muitos anos.
Depois, a vida afastou-os.
Passaram anos e a Lagoa continuou a ser um ponto de encontro para todos os que a amavam e amam. Um mergulho em pleno Verão ou um passeio nos dias frios de Inverno, mas sempre respirando o cheiro a sargaço.
Um dia, num final de dia, dois vultos aproximaram-se do cais, vindos de pontos opostos da Lagoa. Nem se olharam, apenas se sentiram. E mergulharam nas águas transparentes, nadando até à outra margem. As roupas do lado de cá. Eles do outro lado.
Nunca mais foram vistos. 

Diz-se que, na maré vazia, aparecem dois corações desenhados na areia, ao lado do cais. Mas nunca ninguém os viu...

6 comments:

Justine said...

Entendo este teu conto até à última palavra. E garanto que é verdadeiro!
Um abraço e saudades - de ti, das conversas, da nossa lagoa...

Luis Eme said...

Vidas... bonitas estas.

beijinho Maria

Teresa Durães said...

:) Que ternura de conto!

Manuel Veiga said...

maravilhosa lagoa...
beijo, Maria

Pedro Branco said...

Quando a noite se pôs e o silêncio cobriu as águas, os dois amantes surgiram sorridentes. Finalmente o mundo todo se transformou em nada, afinal o tudo que precisavam para existir. A Lagoa, essa, serve de espelho aos olhares dos que não querem desperdiçar a vida...

A.S. said...

Tão lindo... Tão terno... tão real!...

Bjusss,
AL